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A arte da tipografia: bem mais do que um formato de letra



As letras do texto que você está lendo agora foram criadas a partir da tipografia, uma maneira que o ser humano encontrou de representar a escrita além do processo manual e difundir a comunicação, primeiramente na prensa de ferro, e depois no computador. Antes do século 15, a tarefa de comunicar era árdua. Imagina redigir um livro inteiro à mão! Graças ao alemão de barbas longas Johannes Gutenberg, o Ocidente conheceu a prensa mecânica. Nasciam os primeiros tipos móveis, de madeira ou metal.

Atualmente, o uso da tipografia é tão inerente ao nosso dia a dia que muitas vezes esquecemos sua importância. Bom exemplo é o da edição 2017 do Oscar, quando uma gafe foi cometida ao anunciarem erroneamente o prêmio de melhor filme. A confusão se deu por causa das fontes usadas nos cartões. As letras que anunciavam ‘Melhor Filme’ foram impressas do mesmo tamanho do nome da ‘Melhor Atriz’, o que gerou a confusão.

O tipo de letra influencia muito na transmissão da mensagem. Quando se quer ser enfático e direto, nada de tipos que dificultem a leitura.

Mesmo sendo um segmento tão importante do design, ainda são poucas as graduações brasileiras que incluem a cadeira de tipografia no currículo. Não faz muito tempo que poucos profissionais tinham conhecimento da cultura tipográfica do Brasil, apesar de haver um grande interesse.

O projeto de ensino “Tipocracia”, lançado em 2003 pelo paulistano Henrique Nardi, fez muito pela difusão desse saber. Atualmente professor de tipografia da University of Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, ele percorreu 17 Estados no Brasil, inclusive Pernambuco, ministrando cursos sobre tipografia. “Com o tempo, o projeto se

diversificou e passou a envolver congressos, exposições e exibição de documentários”, diz o professor. Em 2015, Henrique organizou a exposição “Caixa de Letras”, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. No mercado, pipocam os estúdios de type design. “Eles colocam suas criações à venda na internet para quem quiser adquiri-las.

E há também aqueles que fazem tipos exclusivos e customizados para empresas”, analisa Nardi. “Há demanda por fontes denominadas ‘técnicas’, ‘sérias’, ‘de texto’”, enumera a professora de design de tipos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Luiza Falcão. Pernambucana, ela se formou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e fez um projeto sobre tipografia vernacular, em 2011. “É aquela desenvolvida por quem não tem formação acadêmica em design. Transformamos essas placas de pequenos comerciantes vistas em muros de bar e fiteiros em fontes digitais”, conta Luiza.

Especializada nessa tipografia vernacular, a coordenadora do Laboratório de Tipografia do Agreste, Fátima Finizola, já escreveu dois livros sobre o assunto: “Tipografia Vernacular Urbana” e “Abridores de Letras de Pernambuco”, ambos pela editora Blucher. Este último título recebeu 2º lugar na categoria ‘Trabalhos Publicados’, do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, em 2014.

Apaixonada pelos tipos populares desde criança, quando passavam pela janela do carro de seus pais nas viagens para o Agreste e Sertão, nas feiras livres, a designer encontrou neles um caminho paralelo à tipografia digital. “Há um movimento de resgate de práticas tipográficas mais artesanais, como a caligrafia, o letreiramento manual, e a própria impressão em tipos de metal”, avisa Fátima, que criou fontes como a dingbat Carroceria, inspirada na iconografia dos ornamentos das carrocerias de caminhões.

Designer de tipos desde os tempos da caligrafia, em 1995, Leonardo Costa, o Buggy, concebeu a primeira digital typefoundry nordestina. A ‘Tipos do Acaso’ surgiu em 1998, fruto do interesse pela fonte digital mais experimental como alternativa às velhas conhecidas do ‘Word’, como Times New Roman e suas amigas. “Criamos um movimento de fomento da tipografia digital em Pernambuco e nos conectamos com produtores nacionais”, declara Buggy.

“Peguei a época pré-computador. Raciocinava com a mão, pincel e nanquim. Agora utilizo um misto de computação e manual”, revela o designer, que já montou laboratórios em universidades como a Aeso, no campus de Caruaru da UFPE, e agora fixou residência em Fortaleza. “Os alunos são colocados em realidades que eles só experimentariam em estágios“, garante. Buscando enveredar por um aspecto artístico, ele criou a Trampo Letras Company. “Estamos fazendo painéis de lettering para criar instalações, murais e esculturas”, avisa. O universo artístico ainda se expressa através da tipografia por meio do grafite.

Apesar da grande oferta de fontes à venda ou gratuitas, portanto, o mercado está longe da saturação. Afinal, tipografia é ferramenta de comunicação que não se esgota e sempre pode ser única. “Uma boa escolha tipográfica pode ser fator decisivo para o sucesso ou não de uma marca. Assim como o mundo se renova, a produção tipográfica também tenta acompanhar as novas tendências de comportamento, de consumo, dando uma voz gráfica a uma forma de pensamento”, analisa Fátima.

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