Cineastas americanas participam de debates e encontros no Recife
As cineastas americanas Lacey Schwartz e Ramona Diaz estão no Recife para uma série de encontros, workshops e debates com estudantes de cursos de comunicação, cinema e design, professores e realizadores locais. O evento faz parte do programa Americana.doc, promovido pelo Consulado Geral do Estados Unidos no Recife, e visa apresentar visões sobre a identidade americana pelas lentes de cineastas indepentendes. O primeiro encontro acontece às 19h desta quinta-feira (10/3) no Cine Bomba, no Largo da Bomba do Hemetério (Rua Bastos Ribeiro, 120-A), na Zona Norte do Recife.
Lacey Shchwartz vai apresentar o documentário Little White Lie, em que ela conta a própria história de ser criada sem saber a verdade de seu pai biológico e sua identidade racial. Ela cresceu em uma típica família judia de classe média em Woodstock, Nova York, com pais amorosos e plena consciência de sua identidade judaica — até que descobre que seu pai biológico é na verdade um homem negro com quem sua mãe, Peggy, teve um caso. A sessão é uma parceria da ONG Auçuba e da OiKabum!Escola de Arte e Tecnologia. Na sexta-feira (11/3), os alunos do projeto de design e vídeo da OiKambum! participam de um workshop com a diretora.
Também na manhã desta sexta-feira, a cineasta Ramona Diaz participa de uma palestra na Faculdade Barros Melo - Aeso, em Olinda, às 9h30min, com o tema Por que um diretor precisa de um bom produtor? Don´t Stop Believin´: Everyman Journey, o mais novo documentário de Ramona, conta a história de Arnel Pineda, um cantor filipino, descoberto no Youtube, que se tornou o vocalista da banda Journey.
À tarde, às 14h30, Lacey Schwartz e Ramona Diaz fazem uma palestra na CAC, na UPPE, na Cidade Universitária. O tema da paletra é produção, distribuição e Empreendendorismo no Audiovisual. A entrada para todos os eventos é gratuita e contarão com tradução simultânea.
Entrevista com Lacey Schwartz
JORNAL DO COMMERCIO - Ao contrário dos Estados Unidos, o Brasil ainda não tem um indústria cinematográfica e toda a produção é subvencionada pelo Estado. O que a sua experiência pode trazer para os produtores e realizadores locais?
LACEY - Nos Estados Unidos temos visto a produção cinematográfica mudar principalmente em dois aspectos. Um é o financiamento, em que o crowdfunding é fortemente utilizado. Você busca colegas, comunidade e pessoas que se interessam pelo tipo de história que você quer contar. O uso de patrocínio ou financiamento do governo também existe, de certa forma – para fazer Little White Lie consegui apoio da PBS (a televisão pública nos EUA) para ter financiamento público parcial, e já tive em outras situações apoio da PBC – Public Broadcasting Company (companhia pública de produção). Eu não sei como acontece no Brasil, mas sinto que o processo está ficando cada vez mais global, com oportunidades em diferente locais do mundo.
JC - Aqui no Brasil, apesar da produção documentária ter aumentado muito, os realizadores não tem onde escoar os filmes. A distribuição e a exibição ainda são os dois principais problemas na cadeia do audiovisual brasileiro. O que você fez para o seu filme circular? Sua experiência pode ser aplicada em outros países, como o Brasil?
LACEY - Do outro lado, a mudança vem na distribuição, de como a internet democratizou a distribuição de conteúdo. Não há mais necessidade de seguir uma sequência em que primeiro você exibe em festivais e depois exibe na internet. Existem muito mais oportunidades de lançar os produtos de forma independente; e também maneiras de se comunicar diretamente com a audiência, através das mídias sociais, que possibilitam divulgar o material “boca a boca”. Então, basicamente, nos EUA, mudaram as formas de conseguir financiamento e de distribuição, e acho que é possível que essa tenha sido uma mudança em outros países também. Mas isso também depende de como as pessoas consumem cinema em cada lugar e como cada país está conectado com essas mudanças.
JC - Qual o cenário do cinema independente americano atual e como você inclui nele?
LACEY - Existem os lados positivos e negativos de como fazer um filme. No cinema independente, é como se você tivesse mais controle sobre as histórias que você quer contar e como você vai contá-las – ao contrário do que acontece quando se produz através de um estúdio ou empresa. Claro que durante a busca de financiamento você recebe muitos nãos, mas você segue em frente. Esse processo pode ser um pouco frustrante, mas é muito importante seguir em frente e contar a história da maneira que você quer contar. Na faculdade de Direito me envolvi com assuntos que realmente gostaria de abordar. Então, fui realmente puxada para o cinema porque esta é uma maneira de engajar pessoas. Em um tempo relativamente curto, você faz com que as pessoas reflitam sobre determinadas questões e se comprometam com o assunto. Quando fiz Little White Lie, sabia que, mesmo sendo autobiográfico, meu objetivo era fazer com que as pessoas refletissem sobre elas mesmas, e menos sobre mim. O início do trabalho foi descobrir o que eu queria atingir como indivíduo e o que queria dar à audiência. Ao mergulhar no que aconteceu comigo, queria ajudar as pessoas a acessarem suas próprias experiências. Enquanto formatava o filme, focava no poder do processo, para levar a uma reflexão, para que as pessoas pudessem se utilizar dessa experiência. Acho que isso acontece que forma natural e espontânea quando você assiste ao filme. E o Truth Circle Game é uma extensão disso. É uma ferramenta para auxiliar as pessoas a contarem suas próprias histórias.