Mudança de local garante sucesso do Coquetel Molotov 2017
O Festival no Ar Coquetel Molotov deste ano pareceu aprender com os erros do ano passado, mudando a estrutura do festival e sendo exemplar, de fato, na organização. Com programação que começava às 13h do sábado (21) e ia até às 3h da madrugada do domingo (22), o Coquetel mudou-se para o Caxangá Golf & Country Club, na Avenida Caxangá.
“A gente, pela primeira vez, tá levantando toda a estrutura do festival. A gente nunca montou uma estrutura como essa antes. A gente tá tendo toda uma organização, desde a CTTU aos bares, aos espaços”, especulou Ana Garcia, produtora do Festival, um dia antes do evento. “O festival enxergou os erros, cresceu - estamos com arquitetos, engenheiros, tudo conforme um festival de médio porte deveria ter. Teve um investimento muito alto, mas sabendo que terá retorno” complementa.
Local
Explorar a ambiência do local foi uma cartada acertada na edição desse ano. Ao contrário do espaço previamente utilizado, a Coudelaria Souza Leão, na Várzea (onde era preciso o deslocamento de pequenos grupos através de vans), o Golf Club - aberto e cheio de áreas verdes - permitia, ao público, respirar. “O local esse ano está suficiente para o público: a estrutura está ok, a praça de alimentação e os serviços estão sendo bem prestados. Até agora não vi nenhuma confusão”, qualifica o estudante de arquitetura Breno Sá Leitão, em seu segundo ano frequentando o festival.
Jamerson de Lima, também produtor do evento, acredita que tudo isso faz parte de uma experiência agregadora ao festival. “Tudo isso faz parte da experiência para esse ano, de forma não só de melhorar a ida do pessoal - pelo fato do Caxangá Golf Club ser mais acessível em questão de deslocamento - como também para que o público se sinta bem à vontade ao longo das horas que passar ali dentro. O festival é longo e, obviamente, cada uma das pessoas tem uma experiência diferente, cada um se cansa um pouco mais rápido do que outro. E aí o fato de a gente ter vários ambientes e vários espaços proporciona que o público não se canse, na medida que pode passar muito tempo lá curtindo, se divertindo ali ao longo das 16 horas de programação”, explica o produtor.
A escolha por um espaço totalmente aberto, contudo, teve seus defeitos: a instabilidade climática de Recife deu as caras, e, o que antes era um dia ensolarado, virou uma noite com chuvas constantes, que estiavam por alguns momentos. O clima pareceu ser um obstáculo no começo: o cantor Romero Ferro, que se apresentava às 18h no palco Aeso, chegou a ficar quase sem plateia, pois uma das áreas cobertas do local ficava próximo a seu palco – e foi para onde todos correram. Na estiada, o cantor ainda brincou: “Parou de chover, né? São Pedro deu uma trégua. Cheguem junto!”.
Quando Priscila Senna, da banda Musa, também subiu ao palco, a chuva realmente ficou em segundo plano: "Viva o brega pernambucano!", brincou Romero. Chuva vai, chuva vem, o público desistiu de se preocupar: o que valia era curtir – seja debaixo de uma daquelas chuvas fortes (que acabaram só agregando mais as performances da plateia) ou metendo o pé na lama para dançar côco em frente ao espaço Som na Rural, que agregou, entre outras atrações, Lia de Itamaracá e Batalha da Escadaria.
Programação
Desde o rap de Rincon Sapiência a Arnaldo Batista com seu violão, a programação do Coquetel Molotov parecia fazer surgir apenas uma palavra na mente do público: eclética. Tanto os shows quanto o público pareciam mudar ao decorrer do dia: logo após o aulão de yoga, às 13h, o público que já havia chegado ao evento aproveitava para sentar na grama, conversar e observar os artistas passando músicas. Jamerson explica que “os shows começam realmente cedo para que o público aprecie mais rápido essa experiencia de assistir um show, um festival a luz do dia, de chegar cedo, ver logo as primeiras atrações. E quem quiser chegar tarde já aproveita a outra parte da festa, a discotecagem. A gente fez o perfil colocar os sons mais intimistas cedo e ao longo da noite ficando mais com cara de festa para o pessoal ficar até a madrugada”.
A "vibe" também era diferente entre os palcos: no Sonic o público parecia mais tranquilo, aproveitando o lugar ao sol saudável das 16h na grama e escutando as músicas do grupo pernambucano Kalouv; do outro lado do Festival, Lady Laay cantava "ser mulher por si só já é um ato de resistência" para uma plateia animada no palco Aeso; no Velvet, palco "principal" - com as atrações de grande nome -, o público parecia não deixar o espaço, acampando entre uma apresentação e outra.
“Eu tô gostando muito, acho que tá tendo uma variedade muito boa dos shows e, apesar da chuva, não tá atrapalhando a 'vibe', a galera tá animada. Eu achei esse espaço melhor, o Golf é mais aberto, enquanto a Coudelaria era mais difícil por ser um galpão fechado”, declara o estudante de design e também artista visual Gabriel Souza, conhecido como The Furmiga.
Apresentado, como os outros shows, por Maria Clara Araujo, autora do "Manifesto pela igualdade: Sobre ser travesti e ter sido aprovado em uma universidade federal" e símbolo da luta trans em Pernambuco, a estudante aproveitou a ocasião do show de Linn da Quebrada para acrescentar à luta: "Eu, como travesti, tenho muito prazer em apresentar outra travesti. Não vamos permitir que outras pessoas falem pelas travestis - as travestis são protagonistas da própria história!", declarou, dando as boas-vindas a Linn.
Linn, por sua vez, abusou das referências sexuais – sem censuras - em sua performance para trazer canções que também falassem sobre direitos sexuais – do homem gay, da mulher. Com eventuais pausas no show para palavras de ordem, Linn declara: "Travestis são artigos de luxo que merecem ser aplaudidos. Uma salva de palmas para todas as travestis aqui. E sabe por que? Porque estamos vivas! Vocês não esperavam por isso, não é mesmo?", critica, em uma referência ao Brasil liderar o ranking mundial de assassinatos de transexuais e travestis, segundo a ONG Transgender Europe.
A participação de Nega do Babado no show da travesti descolou uma versão do que Linn chamou de "hino de Pernambuco": a música "Milk Shake", da Companhia do Calypso.
“Tem tanta novidade, né? E o que eu tô achando mais legal é estar descobrindo que cada um já tá armando parcerias com outros artistas. Descobri que Romero Ferro vai chamar a Musa pra participar do show dele, a Linn com Nega do Babado, Rincon com Lia, Chico de Nudes com Samba Leão. Isso mostra até a animação dos artistas - eles naturalmente criando essas parcerias”, comenta a produtora Ana.
Em outros palcos, a língua não foi barreira para os estrangeiros DIIV (Estados Unidos) e Hinds (Espanha), que, através de um portunhol misturado com inglês, tentavam conversar com os brasileiros. “You guys are heroes” (“Vocês são heróis”), declarou a banda Hinds em um momento de conexão com o público.
À 0h10, no Velvet, Maria Clara anunciou “é hora da gente, da gente preta” e Rincon Sapiência entrou, cheio de estilo, já cantando "A coisa tá preta". Dominando o palco com seu gingado e ritmo, o músico trouxe, como esperado, um show político, como o teor de suas letras. Tocou um sintetizador, puxou um "Fora Temer" e ainda recebeu, no palco, Lia de Itamaracá, que já chega cantarolando "Lia", música de Gilberto Gil composta especialmente para a cantora. No final, entre Rincon e Lia, um abraço cheio de significado após compartilharem, juntos, a canção “Moça Namoradeira”.
Às 2h da madrugada, quando a energia do público tinha tudo para diminuir, o grupo baiano ÀTTØØXXÁ entra no palco Velvet e Mamba Negra, de São Paulo, no Sonic. Em meio a dois shows que pautaram a liberdade, ÀTTØØXXÁ segurou a plateia até às 3h30 do domingo, com um show energético e cheio de interações com o público – ainda com participação de Rincon Sapiência, que voltou ao palco para recantar, dessa vez com o grupo, sua música “Elegância”. "Sem hipocrisia, sem exagero. No momento, a minha banda favorita é ÀTTØØXXÁ!", declarou o músico paulista.
Mamba Negra fechou o festival, tendo, em sua apresentação, pessoas que, curtindo o som, chegaram a estender novamente a canga na grama para dormir e esperar o amanhecer. Na saída, nada da confusão vista ano passado (quando boa parte do público ficou presa no topo da Coudelaria, sem ter como descer, por causa de uma falta de organização das vans de transporte): portões abertos, prontos para a saída da multidão e com seguranças de todos os lados, davam direto a um ponto de táxi. Sendo na Caxangá, o espaço também deixava o público livre para escolher se queria pegar ônibus na avenida.
Comida
Além dos palcos fechados, o espaço para comidas e bebidas também cresceu, possibilitando maior conforto e evitando filas e aglomerados. Agradável, o ambiente contava com várias mesas iluminadas por balões chineses.
Conjuntamente com o espaço, cresceu a diversidade: nesta edição, podia-se contar com inúmeros food trucks de burguerias (preços de R$ 15 ou R$ 20 o hambúrguer), creperias, açaí, pizza e também opções vegetarianas, como falafel (R$ 15 quatro unidades) e até feijoada vegana (R$ 20). Para quem quisesse, também havia uma barraquinha com bombons, biscoito e salgadinhos.
"Eu achei bem acessível em comparação ao ano passado. Gostei também da organização, que agora a gente compra antes e pega a bebida depois. Achei bem mais rápido, bem mais simples. Facilitou tudo", compara Jardel Araújo que, antes do ano passado, nunca tinha ido a um Coquetel Molotov.
Arte e tatuagem
Entre as propostas do evento, havia uma parte reservada para exposição de artistas – que, embora não vejam uma possibilidade de lucro tão grande no evento, enxergam-no como oportunidade de fazer vista a sua marca. Marcio de Oliveira, 50 anos, é um dos artistas que expõem no corredor, que inclui barracas de artesanato, roupas, acessórios e culinária. Vivendo de artesanato há 25 anos, o paulista veio pela primeira vez ao Molotov, apesar de já conhecer o evento de antes. “O ano passado eu tentei vir e não deu certo, esse ano eu fiz uma força a mais para vir. Eu gosto do som, da programação, e gosto da cidade. Juntando tudo, ainda dá pra vender um pouco, mostrar o trabalho”, relata o artista.
Destaca-se, entre os estandes, a campanha feita em conjunto com o projeto Mete a Colher, “Women Friendly” (ou “amigável às mulheres”, em português). A campanha consistia em combater o assédio dentro do próprio evento, encorajando mulheres a falarem e denunciarem caso fossem vítimas de cantadas, assédios e outras formas de constrangimento.
A grande novidade nos estandes desse ano foi um espaço reservado somente para tatuagens. A Convenção No Ar de Tatuagem trouxe tatuadores de uma curadoria feita por Nando Zevê, artista e tatuador pernambucano. Na lista de onze selecionados, nomes como Magda Martins, Manoel Mavik, Marcos Duarte e Paulo Victor Skaz apresentaram seus trabalhos como "flashs" (desenhos prontos para serem tatuados). Ao contrário do que se pode pensar, os desenhos não estavam sendo superfaturados.
"Eu não planejava me tatuar de jeito nenhum, mas cheguei aqui e me identifiquei com a tatuagem - e tava muito barata! Foi esse combo, eu pensei 'não posso perder essa oportunidade’", conta Gabriele Alves, estudante de Rádio, TV e Internet, que se tatuou com Magda Martins, cujos preços variavam entre R$ 150 e R$ 250. "Eu achei incrível a ideia desse espaço, porque pega pessoas como eu, que não pensavam em se tatuar, e vem e faz. Achei muito legal e tem vários estilos diferentes, acho que isso também agrega bastante", avalia Gabriele.
“A gente, pela primeira vez, tá levantando toda a estrutura do festival. A gente nunca montou uma estrutura como essa antes. A gente tá tendo toda uma organização, desde a CTTU aos bares, aos espaços”, especulou Ana Garcia, produtora do Festival, um dia antes do evento. “O festival enxergou os erros, cresceu - estamos com arquitetos, engenheiros, tudo conforme um festival de médio porte deveria ter. Teve um investimento muito alto, mas sabendo que terá retorno” complementa.
Local
Explorar a ambiência do local foi uma cartada acertada na edição desse ano. Ao contrário do espaço previamente utilizado, a Coudelaria Souza Leão, na Várzea (onde era preciso o deslocamento de pequenos grupos através de vans), o Golf Club - aberto e cheio de áreas verdes - permitia, ao público, respirar. “O local esse ano está suficiente para o público: a estrutura está ok, a praça de alimentação e os serviços estão sendo bem prestados. Até agora não vi nenhuma confusão”, qualifica o estudante de arquitetura Breno Sá Leitão, em seu segundo ano frequentando o festival.
Jamerson de Lima, também produtor do evento, acredita que tudo isso faz parte de uma experiência agregadora ao festival. “Tudo isso faz parte da experiência para esse ano, de forma não só de melhorar a ida do pessoal - pelo fato do Caxangá Golf Club ser mais acessível em questão de deslocamento - como também para que o público se sinta bem à vontade ao longo das horas que passar ali dentro. O festival é longo e, obviamente, cada uma das pessoas tem uma experiência diferente, cada um se cansa um pouco mais rápido do que outro. E aí o fato de a gente ter vários ambientes e vários espaços proporciona que o público não se canse, na medida que pode passar muito tempo lá curtindo, se divertindo ali ao longo das 16 horas de programação”, explica o produtor.
A escolha por um espaço totalmente aberto, contudo, teve seus defeitos: a instabilidade climática de Recife deu as caras, e, o que antes era um dia ensolarado, virou uma noite com chuvas constantes, que estiavam por alguns momentos. O clima pareceu ser um obstáculo no começo: o cantor Romero Ferro, que se apresentava às 18h no palco Aeso, chegou a ficar quase sem plateia, pois uma das áreas cobertas do local ficava próximo a seu palco – e foi para onde todos correram. Na estiada, o cantor ainda brincou: “Parou de chover, né? São Pedro deu uma trégua. Cheguem junto!”.
Quando Priscila Senna, da banda Musa, também subiu ao palco, a chuva realmente ficou em segundo plano: "Viva o brega pernambucano!", brincou Romero. Chuva vai, chuva vem, o público desistiu de se preocupar: o que valia era curtir – seja debaixo de uma daquelas chuvas fortes (que acabaram só agregando mais as performances da plateia) ou metendo o pé na lama para dançar côco em frente ao espaço Som na Rural, que agregou, entre outras atrações, Lia de Itamaracá e Batalha da Escadaria.
Programação
Desde o rap de Rincon Sapiência a Arnaldo Batista com seu violão, a programação do Coquetel Molotov parecia fazer surgir apenas uma palavra na mente do público: eclética. Tanto os shows quanto o público pareciam mudar ao decorrer do dia: logo após o aulão de yoga, às 13h, o público que já havia chegado ao evento aproveitava para sentar na grama, conversar e observar os artistas passando músicas. Jamerson explica que “os shows começam realmente cedo para que o público aprecie mais rápido essa experiencia de assistir um show, um festival a luz do dia, de chegar cedo, ver logo as primeiras atrações. E quem quiser chegar tarde já aproveita a outra parte da festa, a discotecagem. A gente fez o perfil colocar os sons mais intimistas cedo e ao longo da noite ficando mais com cara de festa para o pessoal ficar até a madrugada”.
A "vibe" também era diferente entre os palcos: no Sonic o público parecia mais tranquilo, aproveitando o lugar ao sol saudável das 16h na grama e escutando as músicas do grupo pernambucano Kalouv; do outro lado do Festival, Lady Laay cantava "ser mulher por si só já é um ato de resistência" para uma plateia animada no palco Aeso; no Velvet, palco "principal" - com as atrações de grande nome -, o público parecia não deixar o espaço, acampando entre uma apresentação e outra.
“Eu tô gostando muito, acho que tá tendo uma variedade muito boa dos shows e, apesar da chuva, não tá atrapalhando a 'vibe', a galera tá animada. Eu achei esse espaço melhor, o Golf é mais aberto, enquanto a Coudelaria era mais difícil por ser um galpão fechado”, declara o estudante de design e também artista visual Gabriel Souza, conhecido como The Furmiga.
Apresentado, como os outros shows, por Maria Clara Araujo, autora do "Manifesto pela igualdade: Sobre ser travesti e ter sido aprovado em uma universidade federal" e símbolo da luta trans em Pernambuco, a estudante aproveitou a ocasião do show de Linn da Quebrada para acrescentar à luta: "Eu, como travesti, tenho muito prazer em apresentar outra travesti. Não vamos permitir que outras pessoas falem pelas travestis - as travestis são protagonistas da própria história!", declarou, dando as boas-vindas a Linn.
Linn, por sua vez, abusou das referências sexuais – sem censuras - em sua performance para trazer canções que também falassem sobre direitos sexuais – do homem gay, da mulher. Com eventuais pausas no show para palavras de ordem, Linn declara: "Travestis são artigos de luxo que merecem ser aplaudidos. Uma salva de palmas para todas as travestis aqui. E sabe por que? Porque estamos vivas! Vocês não esperavam por isso, não é mesmo?", critica, em uma referência ao Brasil liderar o ranking mundial de assassinatos de transexuais e travestis, segundo a ONG Transgender Europe.
A participação de Nega do Babado no show da travesti descolou uma versão do que Linn chamou de "hino de Pernambuco": a música "Milk Shake", da Companhia do Calypso.
“Tem tanta novidade, né? E o que eu tô achando mais legal é estar descobrindo que cada um já tá armando parcerias com outros artistas. Descobri que Romero Ferro vai chamar a Musa pra participar do show dele, a Linn com Nega do Babado, Rincon com Lia, Chico de Nudes com Samba Leão. Isso mostra até a animação dos artistas - eles naturalmente criando essas parcerias”, comenta a produtora Ana.
Em outros palcos, a língua não foi barreira para os estrangeiros DIIV (Estados Unidos) e Hinds (Espanha), que, através de um portunhol misturado com inglês, tentavam conversar com os brasileiros. “You guys are heroes” (“Vocês são heróis”), declarou a banda Hinds em um momento de conexão com o público.
À 0h10, no Velvet, Maria Clara anunciou “é hora da gente, da gente preta” e Rincon Sapiência entrou, cheio de estilo, já cantando "A coisa tá preta". Dominando o palco com seu gingado e ritmo, o músico trouxe, como esperado, um show político, como o teor de suas letras. Tocou um sintetizador, puxou um "Fora Temer" e ainda recebeu, no palco, Lia de Itamaracá, que já chega cantarolando "Lia", música de Gilberto Gil composta especialmente para a cantora. No final, entre Rincon e Lia, um abraço cheio de significado após compartilharem, juntos, a canção “Moça Namoradeira”.
Às 2h da madrugada, quando a energia do público tinha tudo para diminuir, o grupo baiano ÀTTØØXXÁ entra no palco Velvet e Mamba Negra, de São Paulo, no Sonic. Em meio a dois shows que pautaram a liberdade, ÀTTØØXXÁ segurou a plateia até às 3h30 do domingo, com um show energético e cheio de interações com o público – ainda com participação de Rincon Sapiência, que voltou ao palco para recantar, dessa vez com o grupo, sua música “Elegância”. "Sem hipocrisia, sem exagero. No momento, a minha banda favorita é ÀTTØØXXÁ!", declarou o músico paulista.
Mamba Negra fechou o festival, tendo, em sua apresentação, pessoas que, curtindo o som, chegaram a estender novamente a canga na grama para dormir e esperar o amanhecer. Na saída, nada da confusão vista ano passado (quando boa parte do público ficou presa no topo da Coudelaria, sem ter como descer, por causa de uma falta de organização das vans de transporte): portões abertos, prontos para a saída da multidão e com seguranças de todos os lados, davam direto a um ponto de táxi. Sendo na Caxangá, o espaço também deixava o público livre para escolher se queria pegar ônibus na avenida.
Comida
Além dos palcos fechados, o espaço para comidas e bebidas também cresceu, possibilitando maior conforto e evitando filas e aglomerados. Agradável, o ambiente contava com várias mesas iluminadas por balões chineses.
Conjuntamente com o espaço, cresceu a diversidade: nesta edição, podia-se contar com inúmeros food trucks de burguerias (preços de R$ 15 ou R$ 20 o hambúrguer), creperias, açaí, pizza e também opções vegetarianas, como falafel (R$ 15 quatro unidades) e até feijoada vegana (R$ 20). Para quem quisesse, também havia uma barraquinha com bombons, biscoito e salgadinhos.
"Eu achei bem acessível em comparação ao ano passado. Gostei também da organização, que agora a gente compra antes e pega a bebida depois. Achei bem mais rápido, bem mais simples. Facilitou tudo", compara Jardel Araújo que, antes do ano passado, nunca tinha ido a um Coquetel Molotov.
Arte e tatuagem
Entre as propostas do evento, havia uma parte reservada para exposição de artistas – que, embora não vejam uma possibilidade de lucro tão grande no evento, enxergam-no como oportunidade de fazer vista a sua marca. Marcio de Oliveira, 50 anos, é um dos artistas que expõem no corredor, que inclui barracas de artesanato, roupas, acessórios e culinária. Vivendo de artesanato há 25 anos, o paulista veio pela primeira vez ao Molotov, apesar de já conhecer o evento de antes. “O ano passado eu tentei vir e não deu certo, esse ano eu fiz uma força a mais para vir. Eu gosto do som, da programação, e gosto da cidade. Juntando tudo, ainda dá pra vender um pouco, mostrar o trabalho”, relata o artista.
Destaca-se, entre os estandes, a campanha feita em conjunto com o projeto Mete a Colher, “Women Friendly” (ou “amigável às mulheres”, em português). A campanha consistia em combater o assédio dentro do próprio evento, encorajando mulheres a falarem e denunciarem caso fossem vítimas de cantadas, assédios e outras formas de constrangimento.
A grande novidade nos estandes desse ano foi um espaço reservado somente para tatuagens. A Convenção No Ar de Tatuagem trouxe tatuadores de uma curadoria feita por Nando Zevê, artista e tatuador pernambucano. Na lista de onze selecionados, nomes como Magda Martins, Manoel Mavik, Marcos Duarte e Paulo Victor Skaz apresentaram seus trabalhos como "flashs" (desenhos prontos para serem tatuados). Ao contrário do que se pode pensar, os desenhos não estavam sendo superfaturados.
"Eu não planejava me tatuar de jeito nenhum, mas cheguei aqui e me identifiquei com a tatuagem - e tava muito barata! Foi esse combo, eu pensei 'não posso perder essa oportunidade’", conta Gabriele Alves, estudante de Rádio, TV e Internet, que se tatuou com Magda Martins, cujos preços variavam entre R$ 150 e R$ 250. "Eu achei incrível a ideia desse espaço, porque pega pessoas como eu, que não pensavam em se tatuar, e vem e faz. Achei muito legal e tem vários estilos diferentes, acho que isso também agrega bastante", avalia Gabriele.
Fonte: Folha PE