No Ar Coquetel Molotov e a busca pela melhor experiência
Ana Garcia, idealizadora do evento realizado em Pernambuco, fala sobre mudança de local e riscos na produção do festival
Ao longo de quatorze edições, o No Ar Coquetel Molotov se tornou um festival de referência para todo o Nordeste, tanto como vitrine para artistas quanto um modelo a ser replicado em outras cidades. Em 2017, o evento muda de lugar mais uma vez, sinal de que a organização do evento está atenta às queixas e sugestões do público.
Em conversa com teeteto, a idealizadora do Molotov, Ana Garcia, conversa sobre as conquistas e os percalços para se chegar até aqui, comenta sobre os problemas ocorridos no ano passado e as perspectivas para a edição deste ano, que acontece dia 21 de outubro de 2017, no Caxangá Golf & Country Club.
Confira a entrevista com Ana Garcia:
Ana Garcia, idealizadora do No Ar Coquetel Molotov (Foto: Hannah Carvalho)
André Luiz Maia: O Coquetel Molotov entra em sua décima quarta edição como um evento consolidado na agenda cultural não só de Pernambuco, mas de outros estados, com pessoas fazendo caravanas para curtir o festival. Como vocês veem esse movimento externo em torno do Molotov?
Ana Garcia: O Nordeste sempre teve esse costume de fazer caravanas para curtir festivais e desde a época que o No Ar estava no Teatro da UFPE, chegava van e ônibus, mas claro que naquela época só ficávamos sabendo no dia. Com o Facebook, a galera pode divulgar melhor e ficamos já atentos a quem está se organizando para vir, as cidades, etc… Eu acho fantástico. Fiquei impressionada que vendemos 200 ingressos para o Rio de Janeiro. Acho que levar o festival para outras cidades com certeza ajuda na divulgação, mas trazemos artistas tão específicos que acaba pegando um nicho que curte mesmo.
ALM: Para produzir um festival desse porte, como funciona a articulação da produção ao longo do ano? Vocês circulam por outros eventos do país para perceber lacunas e soluções criativas?
AG: Sim, com certeza circulamos, é sempre bom conversar com outros produtores, ver shows, ver o que os outros festivais estão fazendo, até para aprender o que não fazer. Acho que sempre saio com algo na cabeça depois de visitar um festival, mas tenho encontrado poucos que tenha a experiência como um dos carros chefes. Temos começado a trabalhar no festival cada vez mais cedo para conseguir patrocínio e se não começar essa articulação assim que começa o ano, fica cada vez mais difícil.
ALM: O ano passado foi de certa forma atípico, pois reuniu em uma mesma edição atrações de alto alcance, como Baiana System, Céu e Karol Conka. Este ano, percebo uma mudança de configuração nesse sentido. Foi deliberada a opção de trazer uma programação menos mainstream?
AG: O trio não é mainstream, a Céu eu sabia que fazia show para mil pessoas, estava com disco recém-lançado e o Baiana também. Na verdade, eles estão longe de ser mainstream, mas a junção dos três certamente funciona muito bem em termos de levar público. Fiquei muito surpresa com isso. Mas com certeza foi intencional a mudança. O No Ar é um festival para ser vivido e experienciado, que precisa de espaço para poder enxergar e entender o que está rolando e para isso o ideal é limitar o público, mas é muito bom ver um festival cheio! 2015 foi pra mim a nossa melhor edição em termos de artista vs. público. Estava cheio, mas ainda com espaço para curtir tudo direitinho. É a nossa meta para este ano.
ALM: Ao longo dos anos, o Coquetel foi mudando de lugar e se adaptando à demanda. Estive na edição do ano passado na Coudelaria Souza Leão, que atraiu um público muito grande. Apesar do bom espaço, problemas em relação à infraestrutura do local e do festival tornaram a experiência um pouco problemática. Como vocês avaliam essas questões e se articulam para contorná-las a cada ano?
AG: Um pouco problemática? Bem problemática! Mudamos de local para poder atender o público melhor. A Coudelaria é mágica, mas a utilização de vans para chegar ao local dificulta muito a saída do público, que quer sair de uma vez. Também investimos em uma nova infraestrutura de bar, atendimento, e banheiros. O festival cresceu e está conforme todo festival de médio porte deveria estar, com uma arquiteta, seguro e todas as liberações.
ALM: Sustentar um festival desse porte exige um aporte financeiro considerável. Que desafios vocês enfrentam na hora de viabilizar o projeto? De que forma a crise econômica e escasseamento de editais públicos impacta produções culturais como o Molotov?
AG: Na verdade, o financeiro é o nosso maior problema. Ainda mais porque festivais como o nosso não podem ter uma bilheteria alta. A maioria do público compra ingresso meia-entrada, atualmente o nosso está custando R$ 45 para mais de 20 shows! Isso é muito barato. O meu diretor de produção, Nestor Mádenes, brinca e diz que o que fazemos é uma gincana. Acho que é mesmo por aí! Captamos com diversas marcas um pouco para tentar fazer o dobro e criar uma experiência incrível para o público, para trazer novos artistas para a cidade.
Pior é quando patrocinador cancela no dia da sua coletiva e você já soltou tudo e nem tem como voltar a atrás! Sim, isso aconteceu comigo este ano. Mas é isso… faz parte do jogo. Às vezes, vejo uns jovens falando como nós produtores de festivais deveríamos abrir as nossas tabelas para ser tudo mais democrático, quem vê o que fazemos nos acham loucos! Sempre falam “como vocês arriscam tanto?”. Mas arriscamos pelo prazer. Amo fazer isso e quero fazer melhor sempre.
ALM: Ana, você também produz o Virtuosi, outro festival de música, mas com outra pegada totalmente diferente, voltada para a música clássica. Que aprendizados específicos você toma ao estar nesses dois projetos?
AG: Sim, e são realizados pelos meus pais. A minha mãe é a minha professora de vida. Eu aprendi a escrever projetos com ela, entendi as leis e editais através dela e ela é a minha maior incentivadora, sempre me lembrando que ‘vai dar tudo certo’. Mas na época do Virtuosi mudamos de papel! Eu acho que uma das coisas mais legais que aprendi com ela e com o Virtuosi foi deixar o festival pessoal. É uma sensação de família no backstage, sem gritos, todo mundo em uma onda única de fazer tudo dar certo e acontecer. É muito bonito isso e acho que contagia os músicos e todos que trabalham no festival. Aprendi a ter um escritório em casa com ela também e isso exige uma certa disciplina quando se tem filhos. Ela teve seis! É impressionante a sua história de vida e como ela conduz tudo que faz, sempre muito calma, simples e com amor. Se eu conseguir ser 1/4 dela, sou abençoada.
Confira a programação do No Ar Coquetel Molotov
ESPAÇO uPLANET
14h — Aulão de Yoga
15h30 — Palestra Inspiração — A sustentabilidade para a vida com Ricardo Young
17h30 — Aula de Yoga
18h30 — Debate — “A falência do modelo político atual e as inovações disruptivas para a mudança social”
20h30 — Aula de Yoga
PALCO AESO
15h — Pupila Nervosa (PE)
16h — Cellestino (PE)
17h — Lady Laay (PE)
18h — Romero Ferro (PR)
19h10 — Gorduratrans (RJ)
20h20 — Soledad (CE)
PALCO SONIC
15h30 — Giovani Cidreira (BA)
16h30 — Kalouv (PE)
17h30 — E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (SP)
18h40 — Kiko Dinucci (SP)
19h50 — Hinds (ESPANHA)
21h — Curumin (SP)
22h20 — Alessandra Leão (PE)
23h40 — AfroBapho (BA)
00h40 — NoPorn (SP)
2h — Mamba Negra (SP)
PALCO VELVET
18h — Arnaldo Baptista (SP)
19h20 — O Terno + naipe de metais (SP)
20h30 — DIIV (EUA)
21h40 — Luiza Lian (SP)
22h50 — Linn da Quebrada (SP)
00h10 — Rincon Sapiência (SP) com part. especial de Lia de Itamaracá (PE)
01h40 — Attooxa (BA)
SOM NA RURAL
14h — Iury Andrew / Bafro
22h — Lia de Itamaracá
23h — Batalha da Escadaria
0h — Aslan Cabral / Tropical Absurdo
1h — Petyr / Huesca
2h — Isluislu
*Mais informações sobre atrações e oficinas no site do No Ar Coquetel Molotov
SERVIÇO
Skol apresenta No Ar Coquetel Molotov 2017
Data: 21 de outubro de 2017
Local: Caxangá Golf & Country Club (Av. Caxangá, 5362 , Iputinga, Recife)
Horário: a partir das 13h
Ingressos: R$ 45 (meia), R$ 90 (inteira) e R$70,00 (social, mediante doação de 1 kg de alimento não-perecível); segundo lote
Compre em: Sympla
Realização: Coda Produções
Fonte: Teeteto